segunda-feira, 30 de abril de 2007

Insuficiências

Pisar as lágrimas, esta noite, e queichar-me do frio da chuva a alagar-me os pés. Estes calafrios desconfortáveis a lembrar que sofri hoje e ontem e que sofri sempre assim a segurar as lágrimas, a manter a maquilhagem no lugar, porque tudo tem o seu lugar menos eu. O frio dói ainda mais nestas queimaduras - o teu gelo queima, sabias? - e teimo em não me aquecer, hei-de estar tão gelada que não me restará mais espaço para qualquer outra dor. Não podes crescer! - berro cada vez mais alto na minha revoltada mudez e aperto-me e contorço-me e mordo-me para me livrar do caos. Onde foi que me arranhei desta maneira que faz doer tanto ou tão pouco - doer pouco é uma forma de sofrer mais - que só me apetece cuspir, cuspir-te de mim, cuspir-me para longe? Quando foi que te alimentei que até me esqueci de todas as promessas que tinha feito - noite após noite quando não fechava os olhos nem por um segundo - para me livrar da outra sombra e agora... Tu aqui, porquê? Tudo o que se engrandece no meu coração - orgão de insanidade fatal - me esmaga. Hás-de ficar pequenino e insignificante porque assim insuficiente és perigoso demais.

2 demências:

Unknown disse...

Sabe que adoro tudo o que tu escreves.. este texto está muito bom! (Volteu à blogosfera). Beijo.

Anónimo disse...

Sonhei contigo. Isto não passaria do vulgar se não se tornasse tão vulgar. Na verdade, já há muitos anos que não me aparecias em sonhos mais do que cerca de duas vezes por mês. E era feliz assim. Agora, visitas-me todas as noites. Acordo todas as manhãs desejando que não volte a acontecer. Tenho medo de gritar pelo teu nome durante a noite... mas já sabia que era assim.
Lembro-me agora de algo que me disseste há 10 anos: O olfacto é o sentido mais forte que temos. Brinquei com a situação, dizendo que era natural, que "se levássemos um soco no nariz, que nos lembrávamos durante muito tempo”. Mas é a mais pura das realidades. São os cheiros, os perfumes da Primavera que me avivam a memória e são os sonhos que posteriormente me fazem encontrar-me contigo.
Não te quis mandar mensagens, não te quis mandar e-mails. Só te quis escrever aqui, porque não conseguia aguentar mais guardar isto para mim. E é só. Assim fica, porque assim deve ficar.
Aqui venho ler as tuas palavras, encontrar traços do nosso passado, mesmo que as palavras a este não pertençam, mas fazem-me lembrar quem tu eras, quem eu era e, acima de tudo, quem nós éramos.
Passei no outro dia pela tua janela. Saí dizendo que ia meter gasolina, mas só queria ver a luz daquele quarto. É um vício. É uma dor que me atormenta. No entanto, vivo com ela e assim passo os meus dias. E é só. E assim fica, porque assim deve ficar...