domingo, 6 de julho de 2008

Tu eras. E nessa altura, não quero errar, gostavas de o ser. O único. Verdadeiro. Amor. Um herói. Quantas vezes me abriste. Quantas vezes me abri em ti. Ainda te lembras? Quantos muros à beira da estrada, quantas casas sem porta (eu sei que te lembras, eu vi que te lembras), quantas mesas da sala, quantos chãos. Uma segurança. Que se foi. Tenho cadáveres. Lembranças mortas. Películas detioradas. Filmes de outros séculos. Heróis são heróis e não morrem nunca. Heróis dão-nos a mão, salvam-nos quando todos nos pisam e mantêm-se no anónimato. Foi o que disseste. Quero a tua mão. A tua mão sem saber que é a tua mão. Tanto faz. Uma segurança. Como da última vez. Não me lembro da última vez. Tenho minas. Pela última vez. Salva-me.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Tigre e a Neve

O destino perde o seu rumo quando se fazem pactos de morte. O mundo continua a sua roda e ninguém dá por isso. Mas eu. Mas nós. As noites mais lentas, as horas mais pegajosas, a vigília. O cheiro. O teu cheiro. Sempre o teu cheiro que me queima. O sono toca e foge, e a lembrança permanece. Aqueles momentos. Todos eles. E a culpa. Tanta culpa. Uma vida de negligência e quem diria que nunca mais adormeceríamos da mesma maneira. Mas há um dia, há sempre um dia, por mais que penses que não, em que o coração cede e a indiferença cai. E da queda nasce a neve. De repente, no tempo de uma respiração, um tigre ali deitado. Uma eternidade de esperança, um segundo de existência. Tu nunca sabes. Ninguém sabe. Um segundo vale sempre a pena.