sábado, 20 de setembro de 2008

O Vento

Meu companheiro em viagens utópicas. Um guerreiro. Mas do vento que se levantou sobrou apenas um corpo que vagueia por aí. E o teu corpo vagueia longe. Trai memórias. Indignam-me as memórias. Peças brutas que impõem a sua realidade de puzzle. Antes um homem e uma mulher dançavam juntos sem secretas malícias. Uma pureza de seres que se abraçaram em união. E a beleza disso? Ainda te lembras da beleza disso? Não o isolamento áspero que te assombra em pesadelos de jovem descomprometido, de metade que quer ser unidade. Não. Uma comunhão. Uma força. Vagabundos que caminhavam na mesma loucura de pés descalços. Visionários nas noites passadas na areia a sonhar com um refúgio de vidro que os protegesse do mundo lá fora. [E agora quem me protege do mundo lá fora?] Podia ter sido uma liberdade. Mas o vento. Uma revolução de amantes mortos e amigos feridos em estado grave. Amigos que mal respiram. Amigos que só respiram. Amigos que trocam carícias mas não estendem a mão. Indigna-me o vento.

O Vento