sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Resta um corredor de cabelos brancos

Há Horas de morte por aqui.
Os dias até morrem mais depressa para não pararem nesta porta. E há vírus por todo o lado. Até os gritos se enterraram a eles mesmos. Berrar para quê? Sussurram-se sorrisos de falsa conformação e todos dizem "que azar, até parece bruxedo". Um coxeia, uma incha, a outra arfa e eu vomito. O gato adoece da sua sanidade e nada mais resta. Quantos são? Não interessa... Morrem todos um pouquinho e de noite rasgam-se em cegueiras para não ver a vivacidade da desgraça, dizem que mata. Quantos dias passaram desde o luto? Não sei. Estive fora uns dias, a viver a tranquilidade dos cristais e a alucinação em papel e depois pensei que voltava ao Inferno do costume. Esquece, nem esse sobreviveu. Resta um corredor de cabelos brancos. Passa a noite e eu corri-lhe todos os quilómetros à procura do antigo demónio mas nada acontece. Lavo, seco, esfrego, aspiro e não respiro. Janelas fechadas - olha os pulmões - , pés descalços - olha o barulho - (mas ela não era surda?), gato fechado - olha a agitação - , olhos tristes - olha a desgraça. Para quê uma cama? Ninguém precisa disso. Não vivas. Isso, assim. Olha que aqui não nascem bebés de canelas compridas. Amputam-se pernas e abortam-se miomas.
Afinal sempre acontece qualquer coisa.